sábado, janeiro 26, 2008

A Rua-sem-saída

Segunda-feira, 13:45.
Essa é a história da Rua-sem-saída.
Muitos podem não acreditar, mas ela tinha vida própria.Tanto que, em uma tarde quente de verão, ela levou um carro para dentro dela, sem avisá-lo que ele nunca mais voltaria.
Acontece que o carro quebrou justamente quando estava na Rua, e não havia meio possível daquele motorista empurrar o carro ladeira acima. Ele simplesmente desceu do carro e coçou a cabeça calva.
Ah, você não sabia que a Rua-sem-saída era uma ladeira? Sim, e das mais íngremes e traiçoeiras. Dizem que, durante a noite, os moradores da rua ouviam baixinho seus risos, por ter conseguido mais uma presa.
Quanto ao motorista calvo, seu nome não interessa. O que interessa é que, justamente no momento em que ele olhava para os lados pensando em uma solução, uma das moradoras saiu de sua casa e viu a futura presa da Rua-sem-saída. Assustada, voltou para casa e olhou pela janela de sua casa o motorista perceber que seu celular havia perdido o sinal.
"Era sempre assim", ela pensou. Naquela rua nunca havia sinal, e nunca havia tido.
Era uma rua longa, e ninguém nunca havia saído de lá. Lá, naquela rua, eles tinham tudo o que precisavam para sobreviver. Ninguém nunca ousava sair de lá, e quem o fazia, nunca mais voltava.
Quando começou a escurecer, a jovem moradora, comovida pelo desespero do motorista, o convidou para dentro, e nem percebeu a fúria sussurrada da Rua no vento.
Durante um chá quente, ela lhe contou tudo sobre a Rua, e que o havia salvado da morte. Preparou-lhe uma cama e lá ele dormiu durante a noite. Depois dos pesadelos, a manhã veio e com ela outras se seguiram.
Anos se passaram, e como sempre, todas as vezes que algum carro entrava na Rua, todos os moradores se escondiam em suas casas e só escutavam os gritos.
Ele nunca ousou sair de lá, e com o tempo, motorista e moradora se apaixonaram.
Decidiram fugir, pois Rua, avenida ou viela nenhuma impediria o amor dos dois. Chamaram todos os moradores e explicaram sua situação. Nem todos, porém vários se comoveram e decidiram ajudá-los.
O plano era o seguinte: de madrugada, todos sairíam de suas casas e ajudaríam os namorados a levar o carro ladeira acima. Todos estavam conscientes do risco daquela tarefa, mas não podiam deixar que a Rua acabasse com o destino dos dois.
No dia, enquanto subiam a ladeira com o carro, perceberam um barulho, que aumentava mais com o tempo. Com tudo escuro, nada enxergavam, apenas continuaram a levar o carro.
Até que viram.
A luz dos faróis quase os cegaram. No começo da rua, entrava um carro, mais uma vítima, em altíssima velocidade, sem saber que estava indo para a Rua-sem-saída. Ambos os carros bateram, e juntos desceram a colina, matando muitos dos moradores da Rua.
Na descida, o motorista calvo conseguiu se esconder em uma casa, vivo, porém ferido e sangrando, chorando aos prantos pela provável morte de sua amada, até que ouviu o barulho.Quando saiu, viu que a parede da Rua sem saída havia sido quebrada, e todos os moradores saíram em direção a liberdade.
Viu sua amada morta, e chorou. E, sem saber por que, foi em diração ao começo da Rua.
Lá chegando, viu todos os moradores que haviam fugido cruzando a esquina e entrando novamente na Rua.
"Não, voltem!" Gritou ele. "É uma armadilha! Vocês voltaram para a Rua!"
Mas ninguém o ouviu. Estavam cegos pela idéia de liberdade.
Ele continuou seu trajeto até o começo da Rua, sem nem saber porque o fazia, e quando percebeu, tinha voltado a Avenida onde seu carro tinha começado a dar problema.
Olhou no relógio: 13:45. Era uma segunda-feira.
Chorou. Chorou por ter sáído daquele pesadelo, por sua amada, pelos moradores, por sua vida.
Com seu sangue, esqcreveu no muro da esquina:
"RUA-SEM-SAÍDA ->"

Acontece que choveu aquele dia, e o aviso sumiu para sempre, junto com a Rua-sem-saída.

Um comentário:

Barbara Jimenez disse...

Laísmo.




ps: A Casa Monstro.